
O mercado imobiliário em 2019 apresentou taxas de juro historicamente baixas, elevada procura em todos os segmentos residenciais e uma oferta limitada, principalmente no segmento de preço mais baixo. Será que o mercado vai continuar assim em 2020?
Acreditamos que o próximo ano vai ser em muitos aspectos similar a 2019, contudo há temas e tendências que irão marcar o próximo ano e deveremos prestar atenção:
Evolução demográfica
Os dados confirmam a crescente concentração urbana, sobretudo na AML e AMP. E esta é uma tendência que irá, naturalmente, impactar o mercado imobiliário residencial.
Actualmente, as gerações mais velhas estão reféns nas suas próprias casas, por não encontrarem alternativas, nas suas zonas de preferência, ajustadas à sua capacidade económica. Situação que cria tensão na oferta, em particular nos principais bairros residenciais da cidade de Lisboa, deslocalizando a procura para zonas mais periféricas de Lisboa e do Porto.
À medida que a população portuguesa envelhece, surge o potencial para uma variedade de oportunidades no mercado imobiliário. A procura por residências assistidas tende a aumentar, a procura de imóveis com áreas mais pequenas e com acessibilidades para mobilidade condicionada também cresce, para dar resposta às necessidades deste perfil etário.
Novos mercados
Os jovens que estão a constituir família já estão a procurar lugares mais acessíveis para criar raízes. Esta tendência está a ser potenciada pela regeneração de zonas históricas, frentes ribeirinhas e zonas de expansão do metro nas cidades periféricas de Lisboa – como Amadora, Seixal, Barreiro, Setúbal e outras – que apresentam segurança, acessibilidade económica, proximidade a centros de arte, lazer, comércio local e muitas das soluções que no passado eram exclusivas das grandes cidades. A fórmula viver / trabalhar / disfrutar deverá estar presente na visão dos autarcas e nos projectos de promoção imobiliária, para atrair e reter os jovens e famílias que estão no processo de compra/arrendamento de casa.
Preços e transações
É bastante difícil projetar estimativas para o próximo ano, quer pelas condicionantes externas, quer pela nova escala que hoje Portugal tem, a nível nacional e internacional. Contudo, é expectável que os preços dos imóveis em segunda mão estabilizem, ou mesmo baixem: os proprietários vão ser mais realistas na definição do valor das suas casas, sobretudo nos principais centros urbanos. Já nas cidades periféricas de Lisboa e Porto, é expectável que se registem subidas ligeiras de preços e transações.
Turismo cresce mais no interior
Naturalmente que, em níveis absolutos, a procura no interior do País ainda está muito distante da realidade do Algarve e Lisboa, mas é uma tendência que deve ser potenciada divulgando as diferentes regiões turísticas de Portugal, para retirar pressão dos tradicionais polos de concentração turística. Geram-se novas oportunidades no mercado residencial e caminha-se para um desenvolvimento mais sustentado de todo o território nacional.
A digitalização do setor
O imobiliário, e toda a sua cadeia de valor, está a eliminar as suas tarefas rotineiras de processamento de informação, recorrendo às novas tecnologias para automatizar esta tarefas e apostando numa lógica de sustentabilidade ambiental e de valor acrescentando para toda a cadeia de valor, principalmente para os consumidores.
Industrialização da construção
Considero que este é um tema que tem que ser debatido publicamente e deve ser criado mais investimento em I&D nesta área. O setor da construção necessita de se adaptar a esta realidade e à procura actual. A falta de mão-de-obra, os elevados tempos de edificação, a subida dos custos de construção e a necessidade de reduzir o impacto de todo o ciclo da construção, de forma a assegurar a sustentabilidade ambiental, são apenas alguns dos factores que estão a gerar uma mudança de mentalidade em todo o mundo e a criar um novo paradigma na forma de pensar a arquitectura e construção.
Estas são apenas algumas reflexões para o ano de 2020, com base no contacto diário que mantemos com mais de 3000 agentes imobiliários CENTURY 21 em todo o país. Num mundo em constante transformação é cada vez mais difícil fazer previsões. Cabe-nos a nós, profissionais do sector, analisar as mudanças que estamos a registar para compreender as linhas de orientação do mercado e iniciar o debate e partilha de ideias para o desenvolvimento sustentado do nosso sector.
Publicado na revista Vida Imobiliária